terça-feira, 18 de março de 2008

sábado, 15 de março de 2008

Arroz Tricolor

Aproveitando o ensejo - por que hoje eu fiz uma coalhada que não deu muito certo. Claro, leva-se uns 3 dias pra "fazer" uma coalhada, mas só hoje que vi o resultado. Não parece muito uma coalhada, ficou mais como um iogurte virando a esquina, sabe como? Tipo um iogurte indo embora sem dizer obrigado nem nada? Mas beleza, o sabor não é ruim. Pode ser melhor, mas não é ruim. Vira molho pra salada de pepino, que tal? Enfim.

Mas a receita de hoje no Maravilhoso Mundo Duschenes da Culinária é o Arroz Tricolor. Muito simples. Segue a receita:


Ingredientes: Arroz.
Modo de preparo: Cozinhe o arroz até que esteja macio porém não grudado. Ou tanto faz. Reserve e deixe descansar.


Vá viajar pela Baviera, pela Alsácia, esbarre nos Pirineus franceses, suba até Hamburg e volte 10 dias depois.

O arroz já deve ter tomado o seguinte aspecto (cuidado ao abrir a panela):


Sirva frio, como uma vingança. Em tempo, não fui eu quem deixou o arroz estragar na panela, mas achei bastante plástico o resultado. Batizei o prato de "Arroz Fim-do-Mundo", sou um cara super up-to-date. Bom, vanguardas à parte, tenho mais coisas pra contar e mostrar da minha última viagem.

No último post, disse que ia encontrar Tia Erika e de fato, encontrei. Está uma velhinha muito animadinha, não mudou muito de 16 anos atrás. Inclusive, veio me buscar com o mesmo Audi 80 com que viajamos pela Baviera, Suiça e Austria em 92. Não conhecia o seu filho Florian, mas dessa vez ele apareceu. Gente boa. As fotos abaixo:




No domingo passado, saí de Munique em direção a Stuttgart, para conhecer o meu mais novo parente, Johannes-Karsten Duschenes e sua adorável família. Foi ótimo, me senti de verdade em casa, me trataram como filho. Iris, sua esposa, muito atenciosa e gentil, e Oliver (Ola), filho de Iris, gente finíssima. Uma família sossegada e simpática, foram realmente legais.



Tão legais que Karsten fez questão de me dar uma grana pra ajudar na passagem de trem. O Ola estava junto e resolveu "inteirar" pra eu ir de primeira classe - ou seja, dividimos a passagem em 3 e eu fui de ICE na primeira, feito um rico. Foi massa.




Apesar de ser ICE, atrasou na saída e eu fiquei uma hora esperando na estação de baldeação (eram 3 trens). Mas tudo bem, esperei de rico, mesmo assim. Isso era pra ir de Stuttgart a Strasbourg, na França.




Que bonitinha, essa cidade. Lembram-se daquele slogan anos 80 "Strassburger, você sabe onde pisa"? Não saía da minha cabeça...



Mas que belezurinha de cidade. Parece que saiu de um pop-up book. Toda de casinhas antiguinhas, ruazetas medievais, uma coisa.





E uma boa comida (claro, a € 30,00 se eu comesse mal ia dar um murro na cara do garçon). Foi lá que eu fui encontrar o Rafael (Moraes) e ver o seu espetáculo. Muito bacana, um belo espetáculo. Circomusicoteatral.



Passei dois dias em Strasbourg e de lá pegamos o caminhãozinho do Rafa em direção à sua casa no sul da França.




Saímos às 9 de la matina, paramos em St.Agil onde fica o pessoal da nave-mãe (a companhia de circo) pra deixar umas coisas e trocar de carro. Tcharamram, Rafael numa atitude bastante rafaelística tacou a mão num prego, que atravessou seu dedo espalhando ferrugem por tudo que fosse carne. Que maravilha... o coitado viu o dedo inchar em 5 minutos que nem um baiacú. O mindinho parecia uma porpeta.


Ok, hospital, anti-tetânica, acabamos chegando depois das 3 da manhã em Fusterouau, nosso destino. Eu dormi bem, essa noite, no trailer. Esse da foto. Muito confortável. Esfriava e esquentava, mas era muito confortável.




Aí foi um maravilhoso final-de-semana. Conheci sua casa, os arredores, fizemos passeios. A casa é linda, fica na região de Armagnac, na Gascogne. Típico sul Francês, próximo dos Pirineus. Lindo mesmo.





Blancaluz tinha a visita dos avós, vindos da Argentina, uma gente muito simpática. Jogamos, contamos piada, comemos pipoca, ouvimos música, foi ótimo.


De lá peguei um vôo barato pra Hamburg (era a melhor opção, € 80,00 mais os €20,00 da mitfahr - contra possíveis € 600,00 se eu voasse no domingo a Dusseldorf).


E de novo, aqui estamos.


sábado, 1 de março de 2008





Como é belo o céu azul da Baviera.
O casal vinha em minha direção, no meio do movimento da rua de pedestres. Eu estava encostado em uma das colunas da frente da galeria, havia acabado de sair do café. Ele, típico alemão, loiro de olhos claros, ela com a pele branca imaculada, jovens e bonitos. E apaixonados. Em frente, um acordeonista rasgava o ar com notas vivazes. Pararam na minha frente e se despediram com um beijo longo, as mãos dela nos cabelos dele. Se olharam ternamente e foram-se, ele rua acima, ela em direção ao metrô. Cada um empurrando com as mãos as rodas de suas cadeiras.
Como é belo o céu azul da Baviera.

Estou no quarto do Hostel, as luzes estão apagadas, são 8 da noite. Descanso um pouco minhas pernas. Hoje foi um dia longo. Lá fora faz um pouco de frio, mas o céu da noite está limpo. Ainda venta um pouco, mas nada como hoje de manhã. Quando acordei, ouvi o assobio do vento nas arvores lá fora. Ventava forte. Das janelas do lobby, pude ver a tempestade se aproximando. Na hora em que saí para tomar café na Backerei, pude sentir o que vinha. O vento atrapalhava para caminhar, de tão forte. E então desabou. Primeiro, muita água fria. Logo, um granizo fino e, em seguida, neve. Inesperado – ontem fazia até um certo calor. Nevou durante toda a manhã, uma nevezinha acanhada mas branca, que encharcou as ruas e os telhados. E ventou.



Tão de repente como veio a neve, limpou-se de súbito o céu e o sol brilhou no sorriso dos turistas e dos vendedores da cidade. E eu, com o coração esparramado, me deixei levar pelas ruas de Munique como uma criança, olhando cada detalhe, cada adorno gótico, cada voluta barroca. Absorvi os cheiros e sabores feito um mata-borrão simbolista. Um milhão de imagens varando os olhos: o relógio de Marienplatz com seus dançarinos de mentira e seus sinos de caixa de música, os olhos esgazeados do pecador morrendo na Asamkirche,


o sabor da Schweinhaxe, todas as lojas das griffes entre Karlsplatz e o caminho até a Rezidenz, a barraca de protesto contra o regime comunista chinês com suas fotos chocantes de pessoas torturadas e mortas, o plácido English Garten e seu banheiro público impecável, os surfistas urbanos do Rio Isar ,




ao lado da Haus der Kunst. O prazer de ouvir a voz alegre da minha tia Erika no telefone (e a antecipação do encontro com ela depois de 16 anos), o sabor do café, uma água que matou uma sede, todas as mulheres bonitas andando rápido para algum lugar, o azul cristalino do canivete suiço que me dei, o frio, o sol, o vento, o céu absolutamente profundo da Baviera. “Ein weisses Propeler auf dem blauen bayern Himmel” – o símbolo da BMW.


Aliás, nota: ontem vim de mitfahr (o serviço de carona via internet, muito mais barato que pegar trem ou avião e em geral mais divertido), numa BMW 525. Nunca estive num carro a 230 Km/h, que eu me lembre. Mas nessa Autobahn, com esse carro, parecia que estávamos a passeio. Mesmo assim, com a quantidade de engarrafamentos que pegamos, a viagem levou quase 9 horas. Mitfahr e Hostel – combinação backpacker. Nada melhor, pra quem viaja sozinho. Primeiro por que é muito barato – o Hostel sai por € 13,00 (em Berlin foi € 8,5) contra € 50,00 dum Ibis por aí. Claro, 3 ou 4 beliches num quarto comum. Mas isso, pra quem precisa conhecer gente pra compartir as observações da viagem, é o que há de melhor. Daqui a pouco saio pra dar uma banda, tomar uma cerveja em algum lugar.



Amanhã encontro a Erika pra almoçarmos. Na segunda, vou a Stuttgart encontrar o Karsten, meu novo tio – achei ele na internet por acaso, e nos tornamos amigos. Pelo que suspeitamos, o avô do meu tataravô é irmão do pai do seu tataravô. Temos a maior parte dos nomes dos pais, avós, filhos, primos e etc – menos desse cara. Por isso não temos certeza. Mas tudo indica que a história está certa, e ele realmente é do outro ramo da família, pessoal da Hungria, Tchecoslováquia e Romênia. Vou saber mais essa semana. Fico por aqui. Saudades de todos os amigos, saudades das comidas, dos sucos e das frutas do Brasil.