Uma semana de dizer adeus.
Quando eu era menino, reunimos um grupo de garotos na escola para dançar o break, em voga na época. Michael não dançava break, Michael dançava Michael. E nós olhavamos maravilhados aquele magrinho estranhíssimo (não sabíamos o que ele queria dizer, não sabíamos se ele queria ser homem ou mulher – nós, meninos, fazendo enormes esforços para parecermos homens), e ele deslizava no chão como se tivesse molas no corpo, sua música fazendo pular nossos ossos. Dançávamos o break e queríamos ser o Michael (ainda que aos doze anos nenhum de nós fosse admitir).
E continuamos todos sempre querendo ser Michael Jackson, a sua graça e a sua força.
Anos mais tarde, eu estava na casa de minha namorada, Morena, num final de semana. Ela trouxe uma fita de vídeo e colocou no vhs para vermos. Eu não entendi nada, e ela ali, vidrada. Era Pina Bausch. Cafe Müller, se não me engano. Morena se apaixonou por Pina Bausch, foi para a Alemanha e hoje, dez anos depois, está no Tanzteather Wuppertal.
Há alguns anos fui morar em Wuppertal (um destino que me veio cheio de nós antigos para desatar), encontrar Morena – apaixonado e romântico Lord Byron – e tive o privilégio de assistir a várias apresentações de Sacre du Printemps, Cafe Müller e muitos outros espetáculos dessa dama de Solingen. Foi um meu crescimento, e eu agradeço inteiro.
Por isso me doeu saber hoje de manhã - Pina fecha os olhos e aquieta o corpo.
Não sei o que será de Pina Bausch sem Pina Bausch.
Lá fora um céu azul com nuvens que deslizam solenes me lembra uma procissão elegante. As nuvens levam no dorso as almas flutuantes da dança e da música. Quem sabe se num Café Divine ou numa Disco Celeste esses dois titãs não se encontrem, queria imaginar sua conversa: dizer com o corpo aquilo que nenhuma palavra vai dizer.
E dizemos adeus, adeus Michael, adeus Pina.
terça-feira, 30 de junho de 2009
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