quinta-feira, 29 de maio de 2008

BLU


Child from blu on Vimeo.

e especialmente:


MUTO a wall-painted animation by BLU from blu on Vimeo.

Disponíveis em Vimeo - www.http://www.vimeo.com/993998, ou no Blog do artista - www.blublu.org, junto com os desenhos e pinturas murais.

domingo, 18 de maio de 2008

Se já estamos na primavera


Na primavera os corações saltitam, as borboletas flutuam céleres, os besouros lépidos alcançam seus almejados pares, e cada ser da natureza borbulha em instintos amorosos, debaixo do sol tépido entre o florecer das cores e perfumes que pinta a mão invisível da mestra natureza. Certo?

Errado.

Deveria ser assim, mas não vai estar sendo – diria a operadora de telemarketing.

Ai, lá vai o Daniel criticar de novo, reclamar, que rabugento. Esse menino tá ficando velho demais, vão dizer. Não, muito ao contrário. Meus sentidos estão aguçadíssimos e meu espírito cheio de desejos. E é precisamente por essa razão que fico indignado quando abro a janela do meu apartamento num início de tarde de domingo em pleno Maio apenas pra constatar que lá fora está mesmo frio e úmido. Que o sol não brilha, pra isso não preciso abrir a janela pra conferir. Mas frio? Que chova, ok, aqui ainda é Wuppertal, mas frio? É alguma piada? Ou realmente nossos preconceitos estão se mostrando fundamentados e se transformam em polar realidade? Polar é exagero, mas 13 graus não é nenhum clima primaveril, ainda mais antes das duas da tarde.

Como disse o meu tio Karsten, Ich bin ein Sonnenkind - eu sou uma criança do sol. Amaldiçoado eternamente com uma pele branca de lagartixa, fina como a pele de um bebê (o que ao menos me vale o predicado de tê-la muito macia, propícia a toques amorosos e carícias recíprocas), não posso aguentar o sol brasileiro, seja de inverno ou de verão, por mais de 5 minutos sem proteção após as oito da manhã. A não ser que já esteja queimado de mais de 20 dias, num bronze cor de telha que trai a minha condição de descendente de bigatos de goiaba europeus. Por ser um Sonnenkind, detesto levantar da cama em dias escuros, e brilho como um espelho se o céu se mostra azul e cheio de luz. Ademais dos meus traços bipolares, creio que um céu plúmbeo, grávido de água, é capaz de sombrear minha mente até onde não existe luz. Parece que meu corpo pesa duas vezes mais e tudo tem que ser muito mais engraçado pra eu dar um sorriso. A não ser que eu seja afortunado e encontre no meio do dia algo ou alguém muito especial, numa dessas situações raras em que o sol brilha mesmo sem estar no céu, como quando a gente faz uma descoberta inusitada e prazeirosa ou se surpreende de repente ao ver na rua alguma pessoa muito querida. Mas é difícil.

Existe a idéia de que a gente é que faz o clima, usando a força do pensamento e da vontade. Cansei de ler em montes de livros e artigos autores que, de maneiras diferentes, seja por meio da meditação zen ou shivaísta, transcedental ou não, seja através da imposição do pensamento ou da neurolinguística, do respiracionismo ou da dieta das cinco luas, enfim, seja como for, encontra-se a panacéia para as dores do humor. Não que desacredite, muito ao contrário, eu que sou adepto da prática da meditação e vejo no zen e no taoísmo duas das melhores formas de se entender a grande questão da existência. Mas talvez não tenha ainda, nesses anos, atingido o grau de desprendimento necessário para ver o céu azul e tomar um banho de sol quando o dia está londrino. Com muito esforço e apenas nas condições de temperatura e pressão ditas ótimas - seja sobre um tapete de pêlo felpudo (que não coce o nariz) diante de uma lareira tomando um vinhozinho bem acompanhado, seja lendo George Steiner enfiado numa maçaroca de edredons e travesseiros cheirosos com mãos macias massageando meus pés enquanto as gotas da chuva pintam de abstrato a realidade estampada no vidro da janela, sou apto a dizer que o dia está BOM. Dependendo da companhia, o dia pode chegar mesmo a estar ÓTIMO, até MARAVILHOSO, desde que não precise sair para comprar cebolas no mercado ou trocar o pneu do carro na viagem de volta.

Vão me apedrejar, dizer que eu sou um Zé-Limão, que sou um cara amargo que não consegue tirar prazer da vida. Não se engane, eu não estou dizendo isso. Não critico o criador por ter inventado a chuva ou o inverno, eu que sou romanticamente apreciador das intempéries, sinto o coração disparar quando assisto uma tempestade, passo horas (horas?) apenas olhando o vento despenteando as árvores e roubando as folhas, me enterneço vendo a neve cair e acho que a chuva quando cai limpa o ar e renova tudo que está plantado, inclusive os edifícios e algumas pessoas. O que eu sem dúvida desaprovo, e se fosse pra notificar o responsável eu seria voluntário, é a desorganização que ora se apresenta. Que faça frio no inverno, sim, ótimo, comeremos fondue, tomaremos vinho, os que ainda podemos. Que chova forte e grosso no verão, alguns dias no inverno (prefiro a neve), por que eu amo o verde das folhas (mesmo que de vez enquando só haja por aqui o marrom acinzentado dos troncos e galhos desfolhados). Mas na primavera, não pode fazer esse frio tosco. Olha, é culpa da globalização. Só podemos chegar a uma sábia conclusão, e eu repito até ser ouvido: o mundo vai acabar.

Mas se acabar na primavera, podia ao menos ser num dia de sol, a gente no lago nadando pelado.

E outro dia tirei essa foto, que posto hoje aqui, em franca solidariedade aos wupertallenses de boa índole e consciência, que lutam por um mundo melhor, repleto de amor, onde a luz da primavera possa de fato brilhar em todos os corações do vale, as televisões funcionem simplesmente, e nós, os animais, recebamos enfim a recompensa pela longa espera e possamos nos banhar no fulgir da presença voluptuosa e quente dos amantes apaixonados.


Ora, enquanto eu escrevo isso, olho pela janela e vejo que devagar o tempo melhora.
Pôxa, melhorar no fim do domingo?

quarta-feira, 7 de maio de 2008

DRITTE WELT NEVER DIE


Eu vou fazer uma camiseta: "Me Dritte Welt, Me no Complikat". Putz, quem pensa que ah, aqui é primeiro mundo, tudo funciona que é uma beleza! - funciona em termos, vamos e venhamos. Por exemplo. A TV. Por que aqui não é que nem em Piraporinha, fulano compra uma TV nas Casas Bahias, bota no lombo do passatão, alegra a muié e os menino ligando a bicha na tomada e plim-plim, tá lá o gordo do domingo. Se não pega bem, taca um bombril nas antenas e beleza, globo e você tudo a ver.

Não, dona madame, aqui não é assim não. Aqui é primeiro mundo, a senhora tá situada?

Primeiro, lá vai o Daniel com uma tevezinha (emprestada) pra casa, todo pimpão assistir o canal Arte, que ele é muito sabido e artístico. Ou o History Channel, por que ele também é histórico pacas. Muito que bem. Bota a tevê na mesinha (emprestada) e plict, liga. Nada. Diabo de controle, vai ver é isso. Leva o controle, troca a pilha, liga, nada. Bota antena, tira antena, desmonta a tomada da antena, remonta a tomada da antena, liga, nada. Ufs. Leva a tevê na casa do broder, vai que é o cabo né? É. É o cabo. Vai ver que tá morto. Bora tentar outra coisa. OK, vamos dar uma de hacker malandro pracarái. Sisteminha esperto, liga antena no computador, faz rastreamento, puxa pra lá, roda o programa, puxa pra cá, desliga, liga. Nada.
Ai.

Ok, ligar pra administradora (a mesma que não resolveu o problema do forno e agora eu cozinho num fogãozinho de acampamento de escoteiro). Oi dona Breitsprecher, como vai a senhora, tal e tal a tevê assim assim e coisa. Aham, aham, não funciona. Ah. Contrato com a empresa tal né. Ok. A mulher manda o contrato. Não tem o preço. Afs... procura na internet, epa! Uma empresa tem cabo na minha rua, é baratinho, manda o equipamento e simsalabim, teremos TV! Toca contratar, dois meses de graça que maravilha essa Alemanha é mesmo um país civilizado, que coisa magnífica. Vem o aparelhinho, uma semana depois. Moleza né? Só plugar os cabos. Ah, mas esse cabo, que cabo é esse? Não tem entrada pra ISSO na TV. Vamos no manual, o trem chama Scart Kabel. Ah, mas veja, vivendo e aprendendo né? Um cabão diferente, onde é que eu vou achar? No broder, ele sempre tem uns cabos. Certo, trago os cabos. Não funciona, a tela continua azulona. Levo os cabos de volta. Ah, é por que o cabo tem inda e vinda, tem que levar outro cabo. Tá, bota o cabo lá, liga, maravilha, agora tem umas coisas aparecendo. Bacana. Tá escritinho bem bonito: Signal Stärke = 0%. Não tem sinal. Trocar os cabos, destrocar, fazer scan dos canais, desligar, ligar de novo. Nada, canal nenhum.
Ai.

Telefonar pra empresa (a € 14 cents por minuto, que aqui todo SAC é pago), olha moço, a minha TV assim assim, não funciona, tal e coisa. Ah, ok, manda um novo aparelhinho. Mandou, peguei 10 dias depois quando voltei da itália (nesse prazo já perdi o direito de devolução do contrato, que agora rola por 2 anos). Liga o negocinho (que é só outra fonte AC). Igual, não funciona.
Ai.

Liga na empresa, não tá funcionando. Ah, aqui é a empresa de aparelhinho, o senhor tem que ligar na empresa de TV. Liga na empresa de TV (a €14 cents/min), assim assim isso e aquilo, ah o senhor tem que ligar na empresa que instala cabos de antena (que vem a ser a primeira empresa da lista). Liga na empresa de antena. Ah, mas o senhor tem é que ligar na empresa de TV.
Socorro.

Meu alemão não é tão elástico, preciso de alguém que vá além da palavra "Schuchtern" ou de "Schallplattenfachgeschäft", arrego e peço pro broder. Ele liga na TV. A TV manda ligar na empresa de antena. A empresa de antena explica dessa vez: o senhor precisa contratar um serviço de cabo pra fazer funcionar o cabo da sua antena pra fazer funcionar o trubisquinho que faz funcionar a sua TV. Quanto? € 18,00 mensais (era € 3,90 só a TV). Ah. E por 2 anos, como tudo.

Agora tenho uma TV que não funciona, com um receiver que não funciona, ligados a uma antena que não funciona, pago € 3,90 pra nada e nada vai sair desse ponto se eu não pagar mais € 18,00 que não estavam escritos em lugar nenhum. Fora os € 14 cents por minuto de cada ligação pros SACS. E pareceu rápido aqui né? Mas levou meses - cada carregada de TV pra lá e pra cá precisa de um carro ou um trem - e não a bicicreta vremeia que eu tenho...

Isso, meus amigos. Da próxima vez que for reclamar e dizer ah, mas é por que aqui é terceiro mundo, por que se fosse na Oropa isso não era assim, por que na Oropa funciona, por que na Oropa isso, que na Oropa aquilo. Fica quieto e assiste o gordo do domingo feliz comendo paçoca, que rapadura é doce mas não é mole.

ME DRITTE WELT! BOMBRIL NA ANTENA FOR EVER!

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Sole Mio


Existem uns lugares no mundo que são tão absolutamente eles, que não há nada que se possa comparar. Os Jardins da Babilônia, a Acrópole, o Coliseu, Karnak, Ur, em cada um desses lugares a gente se encontra numa atmosfera fora do nosso tempo e da nossa realidade. Mas ainda nesses lugares, basta andar alguns metros e já se está de volta ao mundo cotidiano. Em Veneza, eu descobri algo diferente. Não adianta andar alguns metros, por que o cenário é a cidade inteira. Você vai caminhar quilômetros por ruazinhas ou navegar pelos canais e estar sempre respirando um ar de quem parou no tempo. Não vou entrar em detalhes sobre minha viagem por Verona e Veneza, nem tampouco sobre a história de cada lugar, Sheakespeare já falou melhor a respeito e não sou eu quem vai se meter a besta de enveredar por campos onde já passaram Romeu e Julieta e O Mercador. Quem tiver interesse, busque na imensa nuvem eletrônica, que tem informações pra afogar qualquer vivente.




Melhor que isso, mostro algumas das fotos que fiz. Há muitas outras, mas fazer upload aqui no Blog é muito difícil, demora muito. Quem tiver conta no Orkut ou no Facebook pode olhar os álbuns que fiz. Quem não tiver pede emprestado ou espera um dia me encontrar que eu mostro. Simply not in the mood.












(a foto acima é uma edição minha de uma foto feita pelo Guito)







Il Borghetto (cercanias de Verona - melhor Tortellini da Itália):

Verona:
(essas últimas três também, feitas pelo Guito.)

Bom, eu sempre recomendo. Itália vale a pena, comida boa, bebida boa, clima delicioso.

Outro dia, que não for Do Trabalho, eu conto mais. Disso, quem sabe, e de outras coisas. Fui.