Errado.
Deveria ser assim, mas não vai estar sendo – diria a operadora de telemarketing.
Ai, lá vai o Daniel criticar de novo, reclamar, que rabugento. Esse menino tá ficando velho demais, vão dizer. Não, muito ao contrário. Meus sentidos estão aguçadíssimos e meu espírito cheio de desejos. E é precisamente por essa razão que fico indignado quando abro a janela do meu apartamento num início de tarde de domingo em pleno Maio apenas pra constatar que lá fora está mesmo frio e úmido. Que o sol não brilha, pra isso não preciso abrir a janela pra conferir. Mas frio? Que chova, ok, aqui ainda é Wuppertal, mas frio? É alguma piada? Ou realmente nossos preconceitos estão se mostrando fundamentados e se transformam em polar realidade? Polar é exagero, mas 13 graus não é nenhum clima primaveril, ainda mais antes das duas da tarde.
Existe a idéia de que a gente é que faz o clima, usando a força do pensamento e da vontade. Cansei de ler em montes de livros e artigos autores que, de maneiras diferentes, seja por meio da meditação zen ou shivaísta, transcedental ou não, seja através da imposição do pensamento ou da neurolinguística, do respiracionismo ou da dieta das cinco luas, enfim, seja como for, encontra-se a panacéia para as dores do humor. Não que desacredite, muito ao contrário, eu que sou adepto da prática da meditação e vejo no zen e no taoísmo duas das melhores formas de se entender a grande questão da existência. Mas talvez não tenha ainda, nesses anos, atingido o grau de desprendimento necessário para ver o céu azul e tomar um banho de sol quando o dia está londrino. Com muito esforço e apenas nas condições de temperatura e pressão ditas ótimas - seja sobre um tapete de pêlo felpudo (que não coce o nariz) diante de uma lareira tomando um vinhozinho bem acompanhado, seja lendo George Steiner enfiado numa maçaroca de edredons e travesseiros cheirosos com mãos macias massageando meus pés enquanto as gotas da chuva pintam de abstrato a realidade estampada no vidro da janela, sou apto a dizer que o dia está BOM. Dependendo da companhia, o dia pode chegar mesmo a estar ÓTIMO, até MARAVILHOSO, desde que não precise sair para comprar cebolas no mercado ou trocar o pneu do carro na viagem de volta.
Vão me apedrejar, dizer que eu sou um Zé-Limão, que sou um cara amargo que não consegue tirar prazer da vida. Não se engane, eu não estou dizendo isso. Não critico o criador por ter inventado a chuva ou o inverno, eu que sou romanticamente apreciador das intempéries, sinto o coração disparar quando assisto uma tempestade, passo horas (horas?) apenas olhando o vento despenteando as árvores e roubando as folhas, me enterneço vendo a neve cair e acho que a chuva quando cai limpa o ar e renova tudo que está plantado, inclusive os edifícios e algumas pessoas. O que eu sem dúvida desaprovo, e se fosse pra notificar o responsável eu seria voluntário, é a desorganização que ora se apresenta. Que faça frio no inverno, sim, ótimo, comeremos fondue, tomaremos vinho, os que ainda podemos. Que chova forte e grosso no verão, alguns dias no inverno (prefiro a neve), por que eu amo o verde das folhas (mesmo que de vez enquando só haja por aqui o marrom acinzentado dos troncos e galhos desfolhados). Mas na primavera, não pode fazer esse frio tosco. Olha, é culpa da globalização. Só podemos chegar a uma sábia conclusão, e eu repito até ser ouvido: o mundo vai acabar.
Ora, enquanto eu escrevo isso, olho pela janela e vejo que devagar o tempo melhora.