segunda-feira, 7 de abril de 2008





Então eu pisaria descalço no capacho da entrada da minha casa de manhã e ouviria de repente o zunido do vento passando por debaixo dos pés enquanto ele, capacho voador, me levaria pela janela entreaberta da escada do edifício. Passaríamos por cima do jardim, dos trilhos de trem, da fábrica de aspirina, por cima da Friedrich-Ebert Strasse e subindo mais, o outro lado do vale. Eu voaria por cima da Alemanha e da França, espantaria os camponeses do século vinte e um na Normandia, e por cima do Oceano Atlântico, entraria como um relâmpago pelas nuvens de tempestade e sombrearia pontual os Caboverdeanos, os Madeirenses, as baleias, os monstros marinhos, os japoneses escondidos, até ver a beira mansa duma praia brasileira, meu nariz cheio de ar salgado e cheiro de peixe e de gaivotas. Meu capacho voador riscaria o céu da Serra do Mar e flutuaria até a janela do seu apartamento, por onde eu entraria e te veria pelo espelho do quarto, os olhos enormes de susto e prazer.