terça-feira, 11 de agosto de 2009

Caramelos a uma Dama Louca

(A Time it Was - Curitiba 2005)

Eu já tinha me esquecido - e foi numa dessas nossas noites que me lembrei.

Por que te ver assim, nua, me olhando, eu ali feito um tabuleiro de xadrez e você me analisando.

Todos esses anos distante serviram pra me refazer, foram anos de reposição das latas de pensamento nas prateleiras da mente - latas que você ajudou a bagunçar e derrubar no chão, você com sua loucura e sua energia descontrolada. A mesma energia que me fez sofrer tanto há alguns anos atrás, a mesma dureza asfáltica que me levou pra outro hemisfério - que me fez, combalido, te abandonar por novas aventuras.

Longe de você, aprendi mais de mim. Aprendi a ser sozinho e, sozinho, a viver minhas paixões - paixões de terra e de céu, de coração e de braços. Foi longe que pude ver que eu ainda tinha muito homem dentro de mim - apesar do tanto de mim que se moldou burilado nas tuas iras e nas tuas alegrias - descobri que você me lapidou, mas a gema bruta da minha força nasceu comigo. E que por isso, todo meu amor é meu, e não seu. E é por isso que eu consigo voltar e te ver e saber que te amo ainda, e que isso não me dói. Ao contrário, posso ver que com toda a tua grandeza, toda a tua força, eu agora não tenho dúvidas de que sou maior, muito maior e mais forte - e por isso te domino.

E agora que nos reencontramos, eu exploro tuas fendas, teus infernos e paraísos - caminho por tuas curvas em deliberada atitude de Senhor das glebas, e minhas pernas se trançam nas tuas tramas, embebidas dum querer tranquilo e inquebrantável.

Nos reencontramos há tão pouco tempo, e mesmo assim tanta coisa emergiu - pensamentos que ficaram no passado, idéias a se ter que eu, aflito, abandonei no limbo da ausência. Agora me voltam essas idéias, planos para nós dois, sonhos de convivência e crescimento mútuos. Te quero linda, forte e equilibrada, brilhante e cheia dos teus mistérios - como sempre foi pra mim. Vejo a malícia que é tua atmosfera, a velocidade de pensamento que te marca. Um fluxo dinâmico de palavras e cores e sons, tudo isso me apaixona, me re-apaixona.

Eu paro e te observo absorto. Teu presente é vivo, pulsante. Eu te toco, te cheiro, te ouço. Me sinto um menino explorando o quintal dos avós.

Por que eu nasci e cresci nas tuas ruas, sou asfalto dos teus caminhos - por que te chamam de metrópole, o terrível abismo urbano brasileiro, o liquidificador de almas - te chamam São Paulo. Eu te chamo minha cidade, meu amor.

(Fossile - Wuppertal 2007)